Colaboradores são pessoas
reais e possuem necessidades, sonhos, planos e buscam realização. Essas pessoas
tornam-se colaboradoras de organizações como parte dessa jornada, onde ser útil
à sociedade os qualifica a ter rendimentos que os autorizam a consumir bens e
serviços, além de poupar recursos para investimentos estruturais e garantir um
futuro tranquilo.
A teoria é essa, ou ao menos
deveria ser. A falta de cultura em gestão financeira e de conhecimentos sobre
economia, aliados a uma total falta de orientação do empregador levam o incauto
novo colaborador a uma armadilha atraente, o kit de boas-vindas do banco onde
serão depositados os salários. Esse kit é composto, em geral, de um cartão com
função de débito e crédito e um limite do chamado “cheque especial” que hoje
também é associado ao uso do cartão, mais que de cheque, propriamente dito.
O kit de boas-vindas
representa uma antecipação dos recebimentos que ocorrerão após um mês de
trabalho, mas o que o novo colaborador não avalia é que essas antecipações
representam financiamentos e que possuem as taxas mais extorsivas do mercado,
11,22% ao mês, o que corresponde a 258% ao ano para o cartão de crédito e 8,92%
ao mês, ou seja 178,8% ao ano para o cheque especial, segundo publicação da
Folha de São Paulo de 12 de abril de 2015.
Essas taxas são exageradas e
chegam a ser extorsivas, contudo são praticadas livremente sob a alegação de
que são aceitas pelos clientes. A pergunta é, há possibilidade de negociação?
Existe verdadeira concorrência entre bancos?
O fato é que o novo
colaborador vê nesses limites a possibilidade de resolver sua ausência de
recursos para começar a trabalhar, cobrindo despesas com um calçado, um corte
de cabelo, uma ou outra peça de roupa, além de alimentação e transporte. Não
menos importante são necessidades domésticas com alimentos, contas, entre
outras. E a empresa fica alheia a esse fato que se repete com frequência.
Qual o problema? Vamos avaliar
por cada ângulo.
Para o empregado, o uso dos
recursos do banco (cartão de crédito e cheque especial) representa um rombo em
seus recursos, quando receber seu primeiro pagamento, o que ele gastou
antecipadamente será descontado de sua conta corrente, pelo banco. Isso pode
fazer muita falta e dificultar o fechamento das contas no mês, o que o colocará
novamente lançando mão do mesmo artifício, ou seja, recorrer ao cartão de
crédito e cheque especial. Assim isso se torna um ciclo vicioso, do qual ele
demorará muito para se livrar.
Para a empresa, o colaborador
que não tem paz financeira é um colaborador estressado e, por vezes, revoltado,
podendo inconscientemente direcionar essa frustração e revolta para a empresa
empregadora, afinal ela está atravessando problemas que não tinha antes de
conseguir o emprego e, com o provável agravamento do seu endividamento, cada
vez mais seu salário é insuficiente e seus sonhos ficam cada vez mais distante.
Para o banco, o cliente é
cativo, submisso, alguém a ser explorado indiscriminadamente e ao máximo que se
consiga. O banco aumenta o limite do cheque especial e oferece refinanciamento,
mantendo os limites anteriores, o que agrava ainda mais a situação. Um dia a
pessoa se torna inadimplente e sua dívida passa a ser cobrada de várias formas,
até que o banco consegue receber uma parte do total e reabilita o crédito da
pessoa. Sem considerar qualquer valor
moral e responsabilidade social, comportando-se sem ética ou escrúpulos, o
banco acredita estar lucrando e, de fato, seus balanços patrimoniais mostram
que está, mas a realidade é que isso contribui para uma economia pobre e para
uma sociedade oprimida, dificultando a fluidez da economia.
A verdade é que pessoas com
reservas financeiras passam a fazer investimentos, o que possibilita que
adquiram bens pagando à vista e com desconto. Isso leva a um ciclo virtuoso que
faz com que o dinheiro trabalhe a favor da pessoa e, considerando investimentos
em educação, a pessoa costuma evoluir na carreira e, consequentemente ganhar
mais. Com sua cultura financeira, ela progride significativamente.
A empresa que buscar orientar
seus funcionários no sentido de não ceder à tentação do kit de boas-vindas do
banco e fazer uso consciente dos serviços bancários ganhará em clima
organizacional, em cultura organizacional e terá colaboradores mais focados no
trabalho e com uma visão mais colaborativa com a empresa, por ter uma vida mais
tranquila.
Marcos Edaes Nobrega
Major da Reserva da Polícia
Militar do estado de São Paulo. Administrador de empresas e Contador, com experiência em
planejamento estratégico, gestão de riscos, gestão de pessoas, gestão de projetos e estruturação
de negócio, com foco em Gestão Suficiente, que é a aplicação do conceito LEAN
(eliminação de desperdícios) à gestão. Possui certificações internacionais
em COBIT Foudation, ITIL Fundation V.3, ITIL Practitioner Release and Control
V.2 e ScrumMaster.
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