Prezados Amigos, recebi este artigo de um colega de trabalho muito especial - Alexandre Schneider - foi Secretário da Educação do município de São Paulo.
O bacana é que em meu artigo - "Desequilíbrio no Sistema de Repartição de Receitas Tributárias entre a União, Estados e Municípios", publicado aqui, coloco em discussão exatamente o que Schneider pensa, ou seja, que o Ministério da Educação deve abrir um diálogo com secretários da educação dos municípios e prefeitos. Bingo! meus amigos, vale muito a pena ler!
ALEXANDRE SCHNEIDER - O ESTADO DE S.PAULO
29
Abril 2015 | 02h 05
Quatro meses após iniciar seu segundo
mandato e indicar a educação como a prioridade de sua gestão, a
presidente Dilma Rousseff chega ao seu segundo ministro na área.
O ministro assumiu a pasta com duas crises à
sua porta: a das universidades federais e a do sistema de
Financiamento Estudantil (Fies). Faz-se necessário garantir mais
transparência nos gastos e apoiar as universidades federais para que
saiam da crise em que se encontram, com dificuldades até mesmo para
pagar despesas básicas, resultado de uma expansão mal planejada. De
outro lado, é preciso reestruturar as regras do financiamento
estudantil.
Criado em 1999, o Fies teve suas regras
alteradas em 2010, com o objetivo de ampliar em 10 milhões o número
de alunos matriculados nas universidades privadas. Os juros foram
reduzidos e as regras de acesso ao financiamento foram relaxadas. A
meta não foi atingida, o programa encontra o desafio de se manter
sustentável e absorver novos alunos. O Fies representa hoje a segunda
maior despesa do Ministério da Educação (MEC), consumindo 15% do
orçamento da pasta, mais do que o governo federal repassa ao Fundo de
Desenvolvimento do Ensino Básico (Fundeb). Com quase R$ 14 bilhões
despendidos no ano passado, o programa nunca passou por uma avaliação
externa. Seria importante que esta fosse realizada, até mesmo para
melhor dimensionar o programa.
A tarefa de resolver a crise das
universidades federais e do Fies não pode, contudo, tomar o lugar do
principal desafio do Brasil: a melhoria de sua educação básica.
Da creche ao ensino médio, ainda temos muito
a percorrer para que se garanta o direito de todos a uma educação de
qualidade. Para cumprir essa obrigação tardia com os brasileiros o
governo federal deveria, de início, inverter as prioridades recentes
de investimento no ensino superior em detrimento da educação básica.
De acordo com estudo recente da consultoria
do Senado, entre 2004 e 2014 a participação da educação básica nos
gastos da União (excetuadas as despesas com pessoal) caiu de 45% para
37%. Hoje o governo federal contribui com apenas R$ 0,18 de cada real
gasto com a educação básica no País, o restante sendo dividido entre
Estados e municípios. Dar prioridade à a educação básica implica,
portanto, a instituição de um novo pacto federativo na educação.
Na educação infantil, o programa nacional de
construção de creches teve resultados ínfimos: apenas cerca de 800
unidades - das 6 mil prometidas em 2007 - foram entregues. O programa
precisa ser redesenhado para que alcance seu objetivo. E esse
redesenho terá mais sucesso se o Ministério da Educação abrir uma
frente de diálogo com prefeitos e secretários municipais de Educação.
O Brasil é muito grande para soluções padronizadas e únicas. Além de
tornar viáveis novas unidades de educação infantil, o MEC deveria
desde já discutir como financiar o seu funcionamento. Os recursos
repassados pelo Fundeb são inferiores ao necessário nessa etapa da
educação. O que impede sua expansão na velocidade que a sociedade
deseja e a lei prevê.
Outro ponto sensível à espera de uma ação
mais efetiva do MEC é a instituição da base nacional curricular
comum. Como já escrevi em artigo recente neste Estado, o Brasil
conseguiu a proeza de instituir um sistema de avaliação escolar
sofisticado sem, no entanto, ter uma base curricular nacional comum.
Como resultado, as avaliações externas passaram a ser a base da
política educacional. É inegável a importância da avaliação. Mas ela
não deve ser o centro do processo, e sim o currículo. Este deve ser
claro e organizado o suficiente para que os brasileiros saibam o
mínimo que deve ser ensinado em todas as escolas do País.
É urgente reformar o ensino médio. Um quinto
dos jovens entre 15 e 17 anos está fora da escola. Apenas metade dos
jovens entre 17 e 19 anos com o ensino fundamental completo consegue
concluir o ensino médio. Do que o concluem, só 9% aprendem o esperado
em Matemática. Um desastre! Mas podemos sair dele.
Em regime de colaboração com os Estados e
municípios, deve-se construir o currículo para a segunda etapa do
ensino fundamental e dos três anos do ensino médio. Este último deve
oferecer programas diferenciados: um com foco na área acadêmica, para
aqueles que querem seguir até a universidade, e um profissional,
direcionado aos jovens que pretendem seguir direto para o mercado de
trabalho.
O currículo acadêmico deve ser
flexibilizado, reduzindo o número de disciplinas obrigatórias e dando
ao jovem a possibilidade de escolha de matérias optativas em trilhas
que se coadunem com o seu projeto de vida. E o currículo profissional
deve apontar para uma maior integração com as demandas de mercado.
Vale lembrar: o Brasil, segundo o Plano Nacional de Educação,
pretende formar 30% dos jovens nas universidades até o ano de 2024. O
que faremos com os outros 70%?
Por fim, é sabido que não se engendrará
mudança efetiva na educação sem os professores. E estes merecem, além
da valorização social simbólica, um conjunto de medidas que vão do
estabelecimento de carreiras que atraiam e mantenham os melhores
quadros na atividade docente a salários dignos e bons programas de
formação, inicial e continuada. Sua formação inicial e continuada
deve estar articulada ao currículo e à prática de sala de aula.
Considerando a realidade brasileira, essa não é uma mudança trivial.
São muitos os desafios da educação básica no
Brasil. Seu enfrentamento exige um novo pacto entre Estados,
municípios e a União. E a disposição do governo da República de
transformar o discurso em ação. Já passou da hora.
*Alexandre Schneider
foi secretário municipal de Educação de São Paulo
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