Sempre que leio livros sobre o comportamento humano tento absorver algum ensinamento que possa servir para o aperfeiçoamento da gestão pública.
O poder do hábito: por que
fazemos o que fazemos na vida e nos negócios / Charles Duhigg; tradução Rafael
Mantovani. – Rio de Janeiro: Objetiva, 2012, é uma dessas obras que, ao lermos
fica impossível deixar de utilizá-la, como sugestão de solução para o
aperfeiçoamento da gestão pública.
O
resumo, abaixo, dá uma ideia do que o hábito na vida das pessoas, empresas,
etc., pode fazer, como chave de transformação e sucesso, vejamos: “Com
base na leitura de centenas de artigos acadêmicos, entrevistas com mais de
trezentos cientistas e executivos, além de pesquisas realizadas em dezenas de
empresas, o repórter investigativo do New York Times Charles Duhigg elabora, em
'O Poder do Hábito', um argumento animador: a chave para se exercitar
regularmente, perder peso, educar bem os filhos, se tornar uma pessoa mais
produtiva, criar empresas revolucionárias (grifo meu) e ter sucesso é
entender como os hábitos funcionam. Transformá-los pode gerar bilhões e significar
a diferença entre fracasso e sucesso, vida e morte.
Duhigg conclui por que algumas
pessoas e empresas têm tanta dificuldade em mudar, enquanto outras o fazem da
noite para o dia. Descobre, por exemplo, como hábitos corretos foram cruciais
para o sucesso do nadador Michael Phelps, do diretor executivo da Starbucks,
Howard Schultz, e do herói dos direitos civis, Martin Luther King, Jr.: “Eles
tiveram êxito transformando hábitos. Todos começam com um padrão psicológico.
Primeiro, há uma sugestão, ou gatilho, que diz ao seu cérebro para entrar em
modo automático e desdobrar um comportamento. Depois, há a rotina, que é o
comportamento em si. Para alterar um hábito, é preciso modificar os padrões que
moldam cada aspecto de nossas vidas. Entendendo isso, você ganha a liberdade –
e a responsabilidade – para começar a trabalhar e refazê-los”, diz o autor”.
A análise dessa obra motivou-me, a ponto de expor alguns raciocínios na esfera
da Segurança Pública, que julgo importantes para a reflexão, sempre no sentido
de melhorar a qualidade de vida dos cidadãos.
Várias
teses de Oficiais superiores da PMESP trataram de um tema que julgo da maior
importância, ou seja, a necessidade de se obter o que chamamos de sensação de
segurança nas cidades;
Em
1989, quando implantamos na PMESP, o primeiro sistema de despacho de viatura
por computadores, o coronel de polícia militar, diretor de telemática, à época,
responsável pela implantação do projeto, afirmava que o melhor para o
policiamento ostensivo/preventivo não era conseguir que a viatura chegasse em
05 minutos (tempo desejado) ao local da ocorrência, mas, sim, evitar a prática de delitos, ao máximo.
O
que o referido coronel estava querendo dizer é que a prevenção dos crimes era,
ainda o melhor remédio para mantermos um nível de sensação de segurança
razoável.
O
policiamento ostensivo, seja por intermédio de viaturas, à pé, à cavalo, com uso
de motocicletas, bicicletas, etc., é uma atividade imprescindível para a
sociedade, onde a ostensividade do policial, em razão do seu uniforme, meio de
locomoção e armamento inibe a prática de crimes.
Quando
a situação chega ao grau de insegurança que nos encontramos, principalmente nas
grandes metrópoles, a primeira coisa que nos vêm à mente é o aumento de
efetivos de policiais nas ruas.
Mas
o que fazer para aumentar, o que chamamos de sensação de segurança, sem,
necessariamente aumentarmos os efetivos de policiais.
Aplicando o conceito do “Poder do Hábito”, a título de sugestão, entendo que o policial
militar, durante o seu turno de policiamento ostensivo, deve, num primeiro
momento atender determinadas metas de abordagem, para, posteriormente, a médio
prazo, criar hábitos, durante seu turno de patrulhamento.
Seria
importante que todos os policias em atividade de policiamento ostensivo,
tivessem que executar, em situações normais, um determinado número mínimo de
abordagens, seja em veículos, transeuntes, etc. O pressuposto é de que, com um
grande número de abordagens, a população teria melhor sensação de segurança e
os praticantes de delitos teriam a percepção de que a qualquer momento poderiam
ser interpelados pela polícia.
Por
óbvio que tal medida geraria alguns problemas para o policial militar de
serviço, pois ao abordar em maior quantidade do que já é feito, se deparariam
com situações como: a necessidade de
aprimorar métodos de abordagem, evitando desgastes à corporação; prisões pela prática de
crimes, como por exemplo, porte ilegal de armas, indivíduos com mandado de
prisão e cidadãos resistentes à abordagem, gerando consequências, como prisões por desacato, etc.
O
resultado seria, evidentemente, maior sensação de segurança aos cidadãos e
prevenção na prática de delitos.
O
que não podemos deixar de citar é sobre o comportamento e cumprimento desta
nova meta, por parte dos policias militares, ou seja, o policial militar, nesta
situação, teria que encaminhar um maior número de ocorrências às Delegacias de
Polícia, figurar como condutor das prisões em flagrante delito ou mesmo
testemunha, se depararia com um tempo excessivo junto à polícia judiciária,
invadindo seu horário de descanso e, finalmente, teria que comparecer ao Poder
Judiciário, na sua hora de folga, em razão do maior número de atendimentos destas ocorrências.
Para
que esta meta, futuro hábito, tenha sucesso, há que se prestigiar o policial
militar quanto ao recebimento de horas extraordinárias, quando ultrapassar seu
turno de serviço, no atendimento de ocorrências, ou mesmo, quando comparecer ao
Poder Judiciário, na sua folga, em razão de ocorrências atendidas.
É
importante frisar que a mera presença ostensiva do policial militar, seja nos
logradouros ou em postos policiais não inibe totalmente a prática de crimes,
pois como é do conhecimento de todos, por intermédio da mídia, acontecem roubos
em comércios ao lado destes postos policiais, com certa frequência.
Assim, em
consonância ao acatado, fica a sugestão, valendo lembrar que tal medida, mesmo
que pareça simples, com certeza será bastante onerosa e complexa, devendo gerar
maior rigor na atividade de policiamento ostensivo, com maior eficiência e resultados
significativos na diminuição da criminalidade.
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