sexta-feira, 14 de outubro de 2016

APOSENTADORIA PRECOCE – CUIDADO! NÃO MORRA ANTES DE MORRER.

             Em primeiro lugar é importante pontuarmos o público alvo do nosso trabalho, ou seja, a quem pode mais interessar o que vou falar:  a resposta é, a todos, já que não só os aposentados precocemente poderão ser atingidos por este mal, mas todas as pessoas que convivem com eles, momento em que poderão sofrer consequências das mais diversas, seja pelo carinho, respeito ou mesmo pelo amor que tenham por estas pessoas.  
          Em segundo lugar não podemos esquecer de pontuar, também, o que venha a ser um aposentado precocemente. Pois bem, a resposta é simples: aposentado precocemente é todo aquele que se inativa e que, porém, a posteriori, percebe que esta situação lhe traz desconforto, infelicidade, sentindo-se ainda capaz e com vontade de produzir, participar da sociedade, seja no labor, nas suas decisões ou até mesmo na convivência social. Assim, a idade, em nossa discussão, pode atingir até os magistrados de bengala, fazendo-se uma alusão à PEC da bengala, que alterou a idade de aposentadoria dos magistrados de 70 para 75 anos.
             Finalizando minha introdução será importante que todos entendam a razão deste assunto tanto me interessar e motivar, então vamos lá: oriundo da PMESP, após trabalhar durante quase 31 anos, acabei por passar para a reserva, aposentadoria na área privada, aos 49 anos de idade, com muitos projetos e sonhos para o futuro. Quando percebi que a aposentadoria chegaria, e não demoraria muito, tratei logo de preparar-me para esta próxima jornada, já que meus projetos eram ambiciosos; expectativa de vida de mais de 20 anos pela frente, atividade prazerosa e de qualidade, complemento financeiro, viagens, maior convivência e aproveitamento com a família e amigos, etc.
            Assim, iniciei tal assertiva com a conclusão do curso de ciências jurídicas quando ainda faltavam alguns anos para completar o tempo e ter o direito a aposentar, fui aprovado na Ordem dos Advogados de São Paulo logo em seguida ao término do curso, conquista da qual me trouxe muito entusiasmo, dada a importância da profissão. Por último entendo ser importante esclarecer que a carreira militar tem características peculiares, ou seja, aprendíamos desde os bancos acadêmicos que superior era sempre superior, não aceitando que um subordinado nos passasse à frente e viesse a nos comandar algum dia, o que, de certa forma, me levou a aposentar mais cedo, após o cumprimento do tempo de serviço mínimo exigido. Assim, com pouco mais de 30 anos de serviço, no posto de Tenente coronel da PMESP, entendi ser a hora de passar para a inatividade.
Aqui começa uma nova fase!
                  Já na reserva iniciei minhas atividades como advogado, minha querida esposa fez questão de providenciar um ótimo escritório, linda decoração, ótima localização, edifício moderno, tudo em plena ordem, para recomeçar a vida profissional em minha nova carreira. Não duraram dois anos para encerrar as atividades, após alguns meses parado, fui atuar como gestor público na prefeitura de São Paulo, até uma subprefeitura eu comandei, mesmo que por pouco tempo, posteriormente montei uma empresa de administração de imóveis, que durou pouco mais de 1 ano, aí, sim, chegou a nova fase, a de aposentado, motivo de minha apresentação.
                 Este sentimento de aposentado é que quero debater e apresentar algumas sugestões para que todos reflitam, mas principalmente para aqueles que, em breve, viverão esta nova situação.
No Brasil já passamos a casa dos 16 milhões de aposentados, num futuro próximo, serão mais de 30 milhões, números bastante expressivos e que merecem atenção em várias áreas de atendimento as suas reais necessidades, como vida e saúde dignas, ambiente social compatível com suas necessidades, ambiente cultural, lazer, trabalho com especificidades para este momento da vida, esportes, turismo, etc.
                 O aposentado passa, num primeiro momento, pela euforia do relaxamento total, já que julga que não terá mais responsabilidades, afinal depois de tantos anos de trabalho, preocupações, metas, estudos, conquistas, desafios, etc., tudo isto deve ser esquecido. A sensação é de um verdadeiro paraíso, tudo o que ele quer é não ter pressa para acordar, para tomar o seu café da manhã, para a leitura do jornal, para acompanhar o noticiário e ver o que aconteceu no mundo, para a sua caminhada, prática de esporte, para pescar, andar de bicicleta, visitar um amigo, ou seja, tem a plena consciência que este sentimento prazeroso será repetido nos próximos meses, anos, até o fim de sua vida.
                Êpa! Passaram-se alguns meses e nós aposentados começamos a perceber alguma coisa estranha. Aquela rotina repetitiva começa a nos trazer um novo sentimento, qual seja: a sensação de ausência de propósito na vida começa a incomodar, daí inicia-se a percepção que falta alguma coisa: a necessidade de colocar um pouco de estrutura em sua vida vem a galope, pois uma vida inteira de responsabilidades, com a necessidade de matar um leão por dia, não desaparece e sai do seu “DNA’, de forma tão simples.
                   Só para relaxar um bocadinho, há pouco tempo, em uma de minhas idas para tomar café da manhã, próximo de minha casa, conheci um senhor, ótima aparência, jovialidade estampada, muito inteligente, com pouco mais de 65 anos. Ele me contava, após saber de minha condição de aposentado, que estava parando suas atividades; empresário, sócio de seu irmão, esclareceu que vendeu sua parte da empresa e que, com alguns poucos milhões, queria regozijar a vida, ou seja, viajar para Miami e Orlando, onde tinha apartamento, passear por vários lugares do mundo, inclusive a Europa, curtir com seu carrão importado, ou seja, afirmou de boca cheia, estou aposentado! Quando comecei a dizer-lhe que, dada a sua intensa atividade de vida, seria importante ele manter alguma atividade, mesmo que mínima, empresarial, quase me crucificou, e afirmou veementemente, quero viver coronel, curtir, aproveitar até o último momento de minha vida. Além de todos estes aspectos mencionados, afirmava que sua esposa era 20 anos mais jovem do que ele e a experiência seria ainda melhor.  Depois de muito conversarmos sobre o assunto e ele ficar indignado, afirmando que eu era “louco” por querer me manter “ativo”, tomei a liberdade de fazer uma aposta com o nobre e novo colega. Eu lhe disse, daqui a 01 ano você estará aqui, entediado, querendo refletir sobre o “DNA” implantado em seu corpo, pensando em manter a sua “mente”, ativa também, com alguma atividade de trabalho. Quem perdesse pagaria o almoço no local que o ganhador escolhesse. Não quero ser presunçoso, porém, mesmo não tendo passado 1 ano ainda da aposta, já nos encontramos algumas vezes na mesma padaria. Está curioso, então vejamos: sempre tomando seu cafezinho simples, aberto a uma boa conversa, ele já relata que tem intensão de ir para a Europa, montar um pequeno negócio para se manter ocupado, uma vez que que tem feito bastante coisa, porém separado de sua esposa, visto que, para preencher o seu tempo, suas atividades nem sempre entram em sintonia com as dela. Sem me alongar, eu dobro a aposta e tenho certeza de minha teoria, afirmando que o novo colega de café da manhã logo estará sofrendo da síndrome a que me refiro e pagará o almoço para este velho presunçoso.   
              Brincadeiras à parte, eu enfatizo a seriedade do problema exposto; só quem vive esta situação sabe a angústia sentida no decorrer de dias, semanas, meses e até mesmo anos, em busca de uma saída, para ter uma vida harmoniosa, entre o tempo soberano, livre, liberto e a necessidade de nos sentirmos produtivos, inventivos, criadores, úteis e vivos. 
Em um artigo publicado por Ana Maria Bahiana, 11/07/12, com o título “Aposentadoria é uma opção para atores”?, extrai-se um pensamento, que não posso deixar de citar, de  Morgan Freeman, que vale a pena ler: “Morgan Freeman, seu companheiro de elenco na trilogia Batman de Nolan, diz que nunca sequer pensou em se aposentar. “Sabe o que vem depois da aposentadoria? A morte”, ele diz, rindo. “Sei que não podemos lutar contra ela, mas posso pelo menos adiar o inevitável ao máximo. Atuar é a minha vida. Não imagino minha vida sem o trabalho de ator”.
                   Dando mais ênfase ao assunto, tenho certeza que você deve se lembrar de mais um caso, mais recente, de aposentado que deu fim a sua vida de forma trágica, e que se encontrava sozinho, sem atividade, etc. Estou falando do grande ator de televisão, cinema e teatro, Walmor Chagas, que muito nos presenteou ao longo da carreira e que, ao final, encontrava-se morando sozinho em um sítio em Atibaia, acabando por suicidar-se.     
Não se pode deixar de olvidar que isto, na verdade, é um problema de saúde, já que, despertados estes sentimentos, contribuem para o desenvolvimento de doenças orgânicas e mentais, mortes em razão delas e até suicídios. 
               Qual a razão do tema proposto: Aposentadoria precoce, cuidado! Não morra antes de morrer.
                     Apesar de ser batizado na igreja católica, acabo por simpatizar com alguns ensinamentos da linha espírita. Ali ensinam, salvo melhor juízo dos entendidos, que quando morremos, na maioria das vezes não entendemos ou aceitamos a morte, nos prendendo à matéria, aos nossos entes queridos, até que as entidades superiores possam nos ajudar a seguir um novo caminho. Sinceramente, esta situação, seja real, é claro, me causa bastante temor, pois imaginar que, já desencarnado, conseguirei ver, perceber minha família, mas não poderei manter contato, interagir, tocá-los, falar-lhes algo, etc. parece-me bastante angustiante.
              Pois bem, é daí que vem a máxima “morrer antes de morrer”. De repente você se vê desligado de suas atividades, muitas vezes com vencimentos menores do que enquanto na ativa, sua situação de “caçador” ou “caçadora”, deixa de existir, suas opiniões já não são mais tão ou mesmo importantes, sua família, amigos e parentes que fazem parte dos ativos, precisam continuar a matar seus leões todos os dias e já não têm mais tempo para dedicar aos seus anseios e necessidades. O isolamento é inevitável e a decepção cada vez mais fecunda, o mundo parece desmoronar com o passar dos dias, meses e anos.         
                Ante todo o exposto, meus caros amigos, você deve estar pensando: ele vai sugerir a criação de um mercado de trabalho específico para aposentados precocemente. Esta pode ser uma das ideias, mas não é a base, a intensão é muito maior, a de chamar-lhe a atenção para que nunca se esqueça de prepara-se para este momento, de forma que ele não venha, de surpresa, sem o menor preparo de sua parte.  
                  Seria irresponsabilidade de minha parte não dedicar, num primeiro momento, àquelas dicas para aposentados, sempre no sentido de ajudar a atravessar este furacão, ou seja: não se esqueça de fazer uma lista diária de coisas gratificantes que lhe proporcione objetivos prazerosos, pense na sua saúde, corpo, casa, família, amigos, cultura, trabalhos que lhe possam proporcionar alguma alegria, conheça lugares interessantes que lhe possam proporcionar novos conhecimentos e cultura, pratique um hobby que sempre quis.       
                        Agora sim, tentarei finalizar explorando o cerne da questão, ou seja, o que fazer para se manter vivo nesta nova fase da vida.
             Lembre-se: há uma nova profissão, no mercado, denominada de conselheiro de aposentadoria, por óbvio abordaremos alguns aspectos que coincidem com esta área de conhecimento, porém nosso objetivo, já que não sou um deles, será o de trabalhar esta conclusão de forma bem-humorada, sempre com o propósito de lhe proporcionar maior felicidade e qualidade de vida neste momento tão importante.
                        Se você não é um daqueles atletas aposentados que ainda trabalham e faturam horrores por intermédio de parcerias com marcas famosas, ou ainda, participando como apresentadores em programas de televisão, rádio, etc., ou ainda como garotos propaganda, como é o caso do ex jogador de futebol Rai, da Caixa Econômica Federal, então eu digo: venha comigo.
                    A apresentação de sugestões, recomendações para este problema leva em consideração alguns aspectos importantes, a saber: aqui não se leva em consideração aposentados que necessitam, veementemente, de complementação de recursos financeiros; profissionais que possam e desejem manter-se ativos, já que as profissões lhes permitem, só devem levar em consideração parte das sugestões em razão da fase idosa, que vai lhes trazer limitações e será importante observar. A ênfase é para aqueles profissionais que resolveram, em um dado momento de suas vidas, aposentar-se por iniciativa própria, ou para aqueles, cuja profissão exija, numa determinada idade ou tempo de serviço que o façam, já que o mercado de trabalho tem que dar lugar para os mais jovens.
                   Vamos lá, iniciaremos algumas recomendações que espero, ajudem, a enfrentar este grave problema:
                - será sempre bom que você tenha mais de uma alternativa de ofício, mesmo que seja a título de lazer, num primeiro momento. Muitas pessoas, ao longo de suas vidas percebem que gostam de pintar, escrever artigos, livros, fabricar objetos dos mais diversos, cantar, tocar instrumentos, fotografar, cozinhar profissionalmente, atuar em consultorias de seu conhecimento e muitas outras que possam conhecer;
                - Tente, ao longo da vida, fazer uma reserva para, ter como opção, abrir uma empresa mesmo que seja de micro franquia: em primeiro lugar elas permitem que que você trabalhe com algo totalmente diferente, além de lhe proporcionar algum rendimento. Mas nunca se esqueça, esta empreitada jamais poderá comprometer seu patrimônio, por esta razão a dica de fazer um pé de meia específico para isto. Nesta situação, ainda, os consultores da área, entendem ser importante que você tenha um sócio de extrema confiança e conhecimento, para lhe permitir navegar com mais facilidade neste campo;            
                - Faça uma ótima rede de comunicação (network) e a mantenha sempre atualizada, isto vai ajudar, não se esquecendo de, sempre, ser importante conhecer novas pessoas, de várias idades;
                - Mantenha-se atualizado na área de tecnologia da informação, manipulação de computadores, windows, office, área de trabalho de seu desk top, internet, planilhas de cálculo, tablet, celular e outros aplicativos.
                - Cuide de sua saúde, bem-estar físico e aparência, pois lhe proporcionarão motivação e muito maior produtividade para as suas atividades.
                - Tenha sempre em mente novos projetos para o seu futuro, são eles que lhe manterão motivado, aí surgirão metas, que darão maior propulsão a sua vida.
                Outra dica que acho muito legal e que confesso iniciei um trabalho neste sentido, porém, não foi adiante, é você praticar algum esporte de maneira mais profissional, insisto profissional e com metas a atingir. Exemplo deste tipo de esportes são as caminhadas de bicicleta, montanhismo, tracking, corrida, pescaria e muitos outros a gosto do freguês.
            Quase finalizando, conheço pessoas que fundaram instituições para ajuda de crianças, reunindo um grupo de amigos na administração e outros para custear financeiramente, num primeiro momento, a instituição, projeto que traz imensa satisfação e sentimento de realização, liderança e produtividade, e
                - Finalmente, a exemplo do que faço hoje, os trabalhos voluntários. Veja o termo é trabalho e mesmo que voluntário, sem remuneração, quando for possível, é claro, lhe proporcionará imensa satisfação pessoal, muitas vezes maior do que um negócio que lhe mantenha ativo financeiramente, pois o desprendimento da remuneração é algo para poucos, pessoas, especiais de verdade.    
Bem, posta assim a questão gostaria de deixar uma mensagem que julgo de extrema importância para fixar bem o tema: o importante aqui não é mostrar-lhe várias formas de minimizar o problema exposto, mas de conscientizá-lo da importância de se preparar, muito antes da aposentadoria, para esta nova etapa de sua vida. A conscientização e preparação não é só para o futuro aposentado mas para todos aqueles que os rodeia, família, verdadeiros amigos, etc.   

Autoria Marcelo Gomes Manoel

Coronel Veterano da PMESP, Advogado e Empresário

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