Em primeiro lugar é importante pontuarmos
o público alvo do nosso trabalho, ou seja, a quem pode mais interessar o que
vou falar: a resposta é, a todos, já que
não só os aposentados precocemente poderão ser atingidos por este mal, mas
todas as pessoas que convivem com eles, momento em que poderão sofrer
consequências das mais diversas, seja pelo carinho, respeito ou mesmo pelo amor
que tenham por estas pessoas.
Em segundo lugar não podemos
esquecer de pontuar, também, o que venha a ser um aposentado precocemente. Pois
bem, a resposta é simples: aposentado precocemente é todo aquele que se inativa
e que, porém, a posteriori, percebe que esta situação lhe traz desconforto, infelicidade,
sentindo-se ainda capaz e com vontade de produzir, participar da sociedade,
seja no labor, nas suas decisões ou até mesmo na convivência social. Assim, a
idade, em nossa discussão, pode atingir até os magistrados de bengala,
fazendo-se uma alusão à PEC da bengala, que alterou a idade de aposentadoria
dos magistrados de 70 para 75 anos.
Finalizando minha introdução será
importante que todos entendam a razão deste assunto tanto me interessar e
motivar, então vamos lá: oriundo da PMESP, após trabalhar durante quase 31
anos, acabei por passar para a reserva, aposentadoria na área privada, aos 49
anos de idade, com muitos projetos e sonhos para o futuro. Quando percebi que a
aposentadoria chegaria, e não demoraria muito, tratei logo de preparar-me para
esta próxima jornada, já que meus projetos eram ambiciosos; expectativa de vida
de mais de 20 anos pela frente, atividade prazerosa e de qualidade, complemento
financeiro, viagens, maior convivência e aproveitamento com a família e amigos,
etc.
Assim, iniciei tal assertiva com
a conclusão do curso de ciências jurídicas quando ainda faltavam alguns anos
para completar o tempo e ter o direito a aposentar, fui aprovado na Ordem dos
Advogados de São Paulo logo em seguida ao término do curso, conquista da qual
me trouxe muito entusiasmo, dada a importância da profissão. Por último entendo
ser importante esclarecer que a carreira militar tem características peculiares,
ou seja, aprendíamos desde os bancos acadêmicos que superior era sempre
superior, não aceitando que um subordinado nos passasse à frente e viesse a nos
comandar algum dia, o que, de certa forma, me levou a aposentar mais cedo, após
o cumprimento do tempo de serviço mínimo exigido. Assim, com pouco mais de 30
anos de serviço, no posto de Tenente coronel da PMESP, entendi ser a hora de
passar para a inatividade.
Aqui começa uma nova fase!
Já na reserva iniciei minhas
atividades como advogado, minha querida esposa fez questão de providenciar um
ótimo escritório, linda decoração, ótima localização, edifício moderno, tudo em
plena ordem, para recomeçar a vida profissional em minha nova carreira. Não duraram
dois anos para encerrar as atividades, após alguns meses parado, fui atuar como
gestor público na prefeitura de São Paulo, até uma subprefeitura eu comandei,
mesmo que por pouco tempo, posteriormente montei uma empresa de administração
de imóveis, que durou pouco mais de 1 ano, aí, sim, chegou a nova fase, a de
aposentado, motivo de minha apresentação.
Este sentimento de aposentado é
que quero debater e apresentar algumas sugestões para que todos reflitam, mas
principalmente para aqueles que, em breve, viverão esta nova situação.
No Brasil já passamos a casa dos
16 milhões de aposentados, num futuro próximo, serão mais de 30 milhões, números
bastante expressivos e que merecem atenção em várias áreas de atendimento as
suas reais necessidades, como vida e saúde dignas, ambiente social compatível
com suas necessidades, ambiente cultural, lazer, trabalho com especificidades
para este momento da vida, esportes, turismo, etc.
O aposentado passa, num primeiro
momento, pela euforia do relaxamento total, já que julga que não terá mais
responsabilidades, afinal depois de tantos anos de trabalho, preocupações,
metas, estudos, conquistas, desafios, etc., tudo isto deve ser esquecido. A
sensação é de um verdadeiro paraíso, tudo o que ele quer é não ter pressa para
acordar, para tomar o seu café da manhã, para a leitura do jornal, para acompanhar
o noticiário e ver o que aconteceu no mundo, para a sua caminhada, prática de
esporte, para pescar, andar de bicicleta, visitar um amigo, ou seja, tem a
plena consciência que este sentimento prazeroso será repetido nos próximos
meses, anos, até o fim de sua vida.
Êpa! Passaram-se alguns meses e
nós aposentados começamos a perceber alguma coisa estranha. Aquela rotina
repetitiva começa a nos trazer um novo sentimento, qual seja: a sensação de ausência
de propósito na vida começa a incomodar, daí inicia-se a percepção que falta
alguma coisa: a necessidade de colocar um pouco de estrutura em sua vida vem a
galope, pois uma vida inteira de responsabilidades, com a necessidade de matar
um leão por dia, não desaparece e sai do seu “DNA’, de forma tão simples.
Só para relaxar um bocadinho, há
pouco tempo, em uma de minhas idas para tomar café da manhã, próximo de minha casa,
conheci um senhor, ótima aparência, jovialidade estampada, muito inteligente, com
pouco mais de 65 anos. Ele me contava, após saber de minha condição de
aposentado, que estava parando suas atividades; empresário, sócio de seu irmão,
esclareceu que vendeu sua parte da empresa e que, com alguns poucos milhões,
queria regozijar a vida, ou seja, viajar para Miami e Orlando, onde tinha
apartamento, passear por vários lugares do mundo, inclusive a Europa, curtir
com seu carrão importado, ou seja, afirmou de boca cheia, estou aposentado!
Quando comecei a dizer-lhe que, dada a sua intensa atividade de vida, seria
importante ele manter alguma atividade, mesmo que mínima, empresarial, quase me
crucificou, e afirmou veementemente, quero viver coronel, curtir, aproveitar
até o último momento de minha vida. Além de todos estes aspectos mencionados, afirmava
que sua esposa era 20 anos mais jovem do que ele e a experiência seria ainda
melhor. Depois de muito conversarmos
sobre o assunto e ele ficar indignado, afirmando que eu era “louco” por querer me
manter “ativo”, tomei a liberdade de fazer uma aposta com o nobre e novo
colega. Eu lhe disse, daqui a 01 ano você estará aqui, entediado, querendo
refletir sobre o “DNA” implantado em seu corpo, pensando em manter a sua
“mente”, ativa também, com alguma atividade de trabalho. Quem perdesse pagaria
o almoço no local que o ganhador escolhesse. Não quero ser presunçoso, porém,
mesmo não tendo passado 1 ano ainda da aposta, já nos encontramos algumas vezes
na mesma padaria. Está curioso, então vejamos: sempre tomando seu cafezinho
simples, aberto a uma boa conversa, ele já relata que tem intensão de ir para a
Europa, montar um pequeno negócio para se manter ocupado, uma vez que que tem
feito bastante coisa, porém separado de sua esposa, visto que, para preencher o
seu tempo, suas atividades nem sempre entram em sintonia com as dela. Sem me
alongar, eu dobro a aposta e tenho certeza de minha teoria, afirmando que o novo
colega de café da manhã logo estará sofrendo da síndrome a que me refiro e
pagará o almoço para este velho presunçoso.
Brincadeiras à parte, eu enfatizo
a seriedade do problema exposto; só quem vive esta situação sabe a angústia
sentida no decorrer de dias, semanas, meses e até mesmo anos, em busca de uma
saída, para ter uma vida harmoniosa, entre o tempo soberano, livre, liberto e a
necessidade de nos sentirmos produtivos, inventivos, criadores, úteis e
vivos.
Em um artigo publicado por Ana
Maria Bahiana, 11/07/12, com o título “Aposentadoria é uma opção para atores”?,
extrai-se um pensamento, que não posso deixar de citar, de Morgan Freeman, que vale a pena ler: “Morgan
Freeman, seu companheiro de elenco na trilogia Batman de Nolan, diz que nunca
sequer pensou em se aposentar. “Sabe o que vem depois da aposentadoria? A
morte”, ele diz, rindo. “Sei que não podemos lutar contra ela, mas posso pelo
menos adiar o inevitável ao máximo. Atuar é a minha vida. Não imagino minha
vida sem o trabalho de ator”.
Dando mais ênfase ao assunto,
tenho certeza que você deve se lembrar de mais um caso, mais recente, de
aposentado que deu fim a sua vida de forma trágica, e que se encontrava sozinho,
sem atividade, etc. Estou falando do grande ator de televisão, cinema e teatro,
Walmor Chagas, que muito nos presenteou ao longo da carreira e que, ao final,
encontrava-se morando sozinho em um sítio em Atibaia, acabando por suicidar-se.
Não se pode deixar de olvidar que
isto, na verdade, é um problema de saúde, já que, despertados estes
sentimentos, contribuem para o desenvolvimento de doenças orgânicas e mentais,
mortes em razão delas e até suicídios.
Qual a razão do tema proposto:
Aposentadoria precoce, cuidado! Não morra antes de morrer.
Apesar de ser batizado na igreja
católica, acabo por simpatizar com alguns ensinamentos da linha espírita. Ali
ensinam, salvo melhor juízo dos entendidos, que quando morremos, na maioria das
vezes não entendemos ou aceitamos a morte, nos prendendo à matéria, aos nossos
entes queridos, até que as entidades superiores possam nos ajudar a seguir um
novo caminho. Sinceramente, esta situação, seja real, é claro, me causa
bastante temor, pois imaginar que, já desencarnado, conseguirei ver, perceber
minha família, mas não poderei manter contato, interagir, tocá-los, falar-lhes
algo, etc. parece-me bastante angustiante.
Pois bem, é daí que vem a máxima “morrer
antes de morrer”. De repente você se vê desligado de suas atividades, muitas
vezes com vencimentos menores do que enquanto na ativa, sua situação de
“caçador” ou “caçadora”, deixa de existir, suas opiniões já não são mais tão ou
mesmo importantes, sua família, amigos e parentes que fazem parte dos ativos,
precisam continuar a matar seus leões todos os dias e já não têm mais tempo
para dedicar aos seus anseios e necessidades. O isolamento é inevitável e a
decepção cada vez mais fecunda, o mundo parece desmoronar com o passar dos
dias, meses e anos.
Ante todo o exposto, meus caros
amigos, você deve estar pensando: ele vai sugerir a criação de um mercado de
trabalho específico para aposentados precocemente. Esta pode ser uma das
ideias, mas não é a base, a intensão é muito maior, a de chamar-lhe a atenção para
que nunca se esqueça de prepara-se para este momento, de forma que ele não
venha, de surpresa, sem o menor preparo de sua parte.
Seria irresponsabilidade de minha
parte não dedicar, num primeiro momento, àquelas dicas para aposentados, sempre
no sentido de ajudar a atravessar este furacão, ou seja: não se esqueça de
fazer uma lista diária de coisas gratificantes que lhe proporcione objetivos
prazerosos, pense na sua saúde, corpo, casa, família, amigos, cultura,
trabalhos que lhe possam proporcionar alguma alegria, conheça lugares
interessantes que lhe possam proporcionar novos conhecimentos e cultura,
pratique um hobby que sempre quis.
Agora sim, tentarei finalizar
explorando o cerne da questão, ou seja, o que fazer para se manter vivo nesta nova
fase da vida.
Lembre-se: há uma nova profissão,
no mercado, denominada de conselheiro de aposentadoria, por óbvio abordaremos
alguns aspectos que coincidem com esta área de conhecimento, porém nosso
objetivo, já que não sou um deles, será o de trabalhar esta conclusão de forma bem-humorada,
sempre com o propósito de lhe proporcionar maior felicidade e qualidade de vida
neste momento tão importante.
Se você não é um daqueles atletas
aposentados que ainda trabalham e faturam horrores por intermédio de parcerias
com marcas famosas, ou ainda, participando como apresentadores em programas de
televisão, rádio, etc., ou ainda como garotos propaganda, como é o caso do ex
jogador de futebol Rai, da Caixa Econômica Federal, então eu digo: venha
comigo.
A apresentação de sugestões, recomendações
para este problema leva em consideração alguns aspectos importantes, a saber:
aqui não se leva em consideração aposentados que necessitam, veementemente, de
complementação de recursos financeiros; profissionais que possam e desejem
manter-se ativos, já que as profissões lhes permitem, só devem levar em
consideração parte das sugestões em razão da fase idosa, que vai lhes trazer
limitações e será importante observar. A ênfase é para aqueles profissionais
que resolveram, em um dado momento de suas vidas, aposentar-se por iniciativa
própria, ou para aqueles, cuja profissão exija, numa determinada idade ou tempo
de serviço que o façam, já que o mercado de trabalho tem que dar lugar para os
mais jovens.
Vamos lá, iniciaremos algumas
recomendações que espero, ajudem, a enfrentar este grave problema:
-
será sempre bom que você tenha mais de uma alternativa de ofício, mesmo que
seja a título de lazer, num primeiro momento. Muitas pessoas, ao longo de suas
vidas percebem que gostam de pintar, escrever artigos, livros, fabricar objetos
dos mais diversos, cantar, tocar instrumentos, fotografar, cozinhar
profissionalmente, atuar em consultorias de seu conhecimento e muitas outras
que possam conhecer;
-
Tente, ao longo da vida, fazer uma reserva para, ter como opção, abrir uma
empresa mesmo que seja de micro franquia: em primeiro lugar elas permitem que
que você trabalhe com algo totalmente diferente, além de lhe proporcionar algum
rendimento. Mas nunca se esqueça, esta empreitada jamais poderá comprometer seu
patrimônio, por esta razão a dica de fazer um pé de meia específico para isto.
Nesta situação, ainda, os consultores da área, entendem ser importante que você
tenha um sócio de extrema confiança e conhecimento, para lhe permitir navegar
com mais facilidade neste campo;
- Faça uma ótima rede
de comunicação (network) e a mantenha sempre atualizada, isto vai ajudar, não
se esquecendo de, sempre, ser importante conhecer novas pessoas, de várias
idades;
-
Mantenha-se atualizado na área de tecnologia da informação, manipulação de
computadores, windows, office, área de trabalho de seu desk top, internet, planilhas
de cálculo, tablet, celular e outros aplicativos.
-
Cuide de sua saúde, bem-estar físico e aparência, pois lhe proporcionarão
motivação e muito maior produtividade para as suas atividades.
-
Tenha sempre em mente novos projetos para o seu futuro, são eles que lhe
manterão motivado, aí surgirão metas, que darão maior propulsão a sua vida.
Outra
dica que acho muito legal e que confesso iniciei um trabalho neste sentido, porém,
não foi adiante, é você praticar algum esporte de maneira mais profissional,
insisto profissional e com metas a atingir. Exemplo deste tipo de esportes são
as caminhadas de bicicleta, montanhismo, tracking, corrida, pescaria e muitos
outros a gosto do freguês.
Quase
finalizando, conheço pessoas que fundaram instituições para ajuda de crianças,
reunindo um grupo de amigos na administração e outros para custear
financeiramente, num primeiro momento, a instituição, projeto que traz imensa
satisfação e sentimento de realização, liderança e produtividade, e
-
Finalmente, a exemplo do que faço hoje, os trabalhos voluntários. Veja o termo
é trabalho e mesmo que voluntário, sem remuneração, quando for possível, é
claro, lhe proporcionará imensa satisfação pessoal, muitas vezes maior do que
um negócio que lhe mantenha ativo financeiramente, pois o desprendimento da
remuneração é algo para poucos, pessoas, especiais de verdade.
Bem, posta assim a questão
gostaria de deixar uma mensagem que julgo de extrema importância para fixar bem
o tema: o importante aqui não é mostrar-lhe várias formas de minimizar o
problema exposto, mas de conscientizá-lo da importância de se preparar, muito
antes da aposentadoria, para esta nova etapa de sua vida. A conscientização e
preparação não é só para o futuro aposentado mas para todos aqueles que os
rodeia, família, verdadeiros amigos, etc.
Autoria Marcelo Gomes Manoel
Coronel Veterano da PMESP,
Advogado e Empresário
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