Em 1998,
em monografia do Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais da PMESP, escrevi, entre
outros assuntos, sobre aspectos psicológicos dos ambientes que influenciam no
cometimento de crime, propondo, inclusive o incentivo na manutenção e pintura
dos imóveis, por intermédio da compensação no IPTU, entendendo, há época, que
ao proporcionarmos um ambiente visivelmente bem cuidado, inibiríamos, assim, a
prática de delitos.
Já em 2012, na Subprefeitura de Freguesia do Ó, o
Coordenador de Defesa Civil, grande e respeitado amigo, senhor Lacerda,
apresentou-me um projeto desenvolvido em uma Associação do bairro, onde, no
muro da sede dessa Associação, havia a prática de despejo de lixo, assim foram
fixados neste muro vasos de flores, trazendo um aspecto de local bem cuidado e
preservado, eliminando tal problema. Incontinente, levamos o projeto a outro
muro, da sede de um Centro de Esportes e Lazer da Prefeitura, onde implantamos
o mesmo projeto, além de instalarmos um pequeno jardim rente ao muro, evitando,
também, o despejo de lixo, prática constante há vários anos no local.
Assim, ao assistir um programa de televisão na Internacional
Geografic, denominado “Repense sua Rotina”,
deparei-me com uma matéria que falava sobre a “ Teoria das Janelas Quebradas,
que achei muito interessante e resolvi pesquisar sobre o assunto, o qual tomo a
liberdade de compartilhar com os
apreciadores do tema, vejam:
Por: Luis Pellegrini
Há alguns anos, a Universidade de
Stanford (EUA), realizou uma interessante experiência de psicologia social.
Deixou dois carros idênticos, da mesma marca, modelo e cor, abandonados na rua.
Um no Bronx, zona pobre e conflituosa de Nova York e o outro em Palo Alto, zona
rica e tranquila da Califórnia. Dois carros idênticos abandonados, dois bairros
com populações muito diferentes e uma equipe de especialistas em psicologia
social estudando as condutas das pessoas em cada local.
Resultado: o carro abandonado no
Bronx começou a ser vandalizado em poucas horas. As rodas foram roubadas,
depois o motor, os espelhos, o rádio, etc. Levaram tudo o que fosse
aproveitável e aquilo que não puderam levar, destruíram. Contrariamente, o
carro abandonado em Palo Alto manteve-se intacto.
A experiência não terminou aí.
Quando o carro abandonado no Bronx já estava desfeito e o de Palo Alto estava
há uma semana impecável, os pesquisadores quebraram um vidro do automóvel de
Palo Alto. Resultado: logo a seguir foi desencadeado o mesmo processo ocorrido
no Bronx. Roubo, violência e vandalismo reduziram o veículo à mesma situação
daquele deixado no bairro pobre. Por que o vidro quebrado na viatura abandonada
num bairro supostamente seguro foi capaz de desencadear todo um processo
delituoso? Evidentemente, não foi devido à pobreza. Trata-se de algo que tem a
ver com a psicologia humana e com as relações sociais.
Um vidro quebrado numa viatura
abandonada transmite uma ideia de deterioração, de desinteresse, de
despreocupação. Faz quebrar os códigos de convivência, faz supor que a lei
encontra-se ausente, que naquele lugar não existem normas ou regras. Um vidro
quebrado induz ao "vale-tudo". Cada novo ataque depredador reafirma e
multiplica essa ideia, até que a escalada de atos cada vez piores torna-se
incontrolável, desembocando numa violência irracional.
Baseada nessa experiência e em
outras análogas, foi desenvolvida a "Teoria das Janelas Quebradas".
Sua conclusão é que o delito é maior nas zonas onde o descuido, a sujeira, a
desordem e o maltrato são maiores. Se por alguma razão racha o vidro de uma
janela de um edifício e ninguém o repara, muito rapidamente estarão quebrados
todos os demais. Se uma comunidade exibe sinais de deterioração, e esse fato
parece não importar a ninguém, isso fatalmente será fator de geração de
delitos.
Origem da teoria
Essa teoria na verdade começou a
ser desenvolvida em 1982, quando o cientista político James Q. Wilson e o
psicólogo criminologista George Kelling, americanos, publicaram um estudo na
revista Atlantic Monthly, estabelecendo, pela primeira vez, uma relação de
causalidade entre desordem e criminalidade. Nesse estudo, utilizaram os autores
da imagem das janelas quebradas para explicar como a desordem e a criminalidade
poderiam, aos poucos, infiltrar-se na comunidade, causando a sua decadência e a
consequente queda da qualidade de vida. O estudo realizado por esses
criminologistas teve por base a experiência dos carros abandonados no Bronx e
em Palo Alto.
Em suas conclusões, esses especialistas
acreditam que, ampliando a análise situacional, se por exemplo uma janela de
uma fábrica ou escritório fosse quebrada e não fosse, incontinenti, consertada,
quem por ali passasse e se deparasse com a cena logo iria concluir que ninguém
se importava com a situação e que naquela localidade não havia autoridade
responsável pela manutenção da ordem.
Logo em seguida, as pessoas de
bem deixariam aquela comunidade, relegando o bairro à mercê de gatunos e
desordeiros, pois apenas pessoas desocupadas ou imprudentes se sentiriam à
vontade para residir em uma rua cuja decadência se torna evidente. Pequenas
desordens, portanto, levariam a grandes desordens e, posteriormente, ao crime.
Da mesma forma, concluem os
defensores da teoria, quando são cometidas "pequenas faltas"
(estacionar em lugar proibido, exceder o limite de velocidade, passar com o
sinal vermelho) e as mesmas não são sancionadas, logo começam as faltas maiores
e os delitos cada vez mais graves. Se admitirmos atitudes violentas como algo
normal no desenvolvimento das crianças, o padrão de desenvolvimento será de
maior violência quando essas crianças se tornarem adultas.
A Teoria das Janelas Quebradas
definiu um novo marco no estudo da criminalidade ao apontar que a relação de
causalidade entre a criminalidade e outros fatores sociais, tais como a pobreza
ou a "segregação racial" é menos importante do que a relação entre a
desordem e a criminalidade. Não seriam somente fatores ambientais (mesológicos)
ou pessoais (biológicos) que teriam influência na formação da personalidade
criminosa, contrariando os estudos da criminologia clássica.
Landscape
No metrô de Nova York
Há três décadas, a criminalidade
em várias áreas e cidades dos EUA – com Nova York no topo da lista - atingia
níveis alarmantes, preocupando a população e as autoridades americanas,
principalmente os responsáveis pela segurança pública. Nesse diapasão, foi
implementada uma Política Criminal de Tolerância Zero, que seguia os
fundamentos da "Teoria das Janelas Quebradas".
As autoridades entendiam que, por
exemplo, se os parques e outros espaços públicos deteriorados forem
progressivamente abandonados pela administração pública e pela maioria dos
moradores, esses mesmos espaços serão progressivamente ocupados por
delinquentes.
A Teoria das Janelas Quebradas
foi aplicada pela primeira vez em meados da década de 80 no metrô de Nova York,
que se havia convertido no ponto mais perigoso da cidade. Começou-se por
combater as pequenas transgressões: lixo jogado no chão das estações, alcoolismo
entre o público, evasões ao pagamento da passagem, pequenos roubos e desordens.
Os resultados positivos foram rápidos e evidentes. Começando pelo pequeno
conseguiu-se fazer do metrô um lugar seguro.
Posteriormente, em 1994, Rudolph
Giuliani, prefeito de Nova York, baseado na Teoria das Janelas Quebradas e na
experiência do metrô, deu impulso a uma política mais abrangente de
"tolerância zero". A estratégia consistiu em criar comunidades limpas
e ordenadas, não permitindo transgressões à lei e às normas de civilidade e
convivência urbana. O resultado na prática foi uma enorme redução de todos os
índices criminais da cidade de Nova York.
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